Círculo de Brigantia: novembro 2011

O anoitecer de 31 de outubro anuncia a chegada de um momento muito especial na Roda do Ano: Samhain. Também conhecido como Noite dos Mortos ou dos Ancestrais, é um dos grandes sabás celebrados pela Bruxaria Moderna. O crepúsculo desta noite mágica revela o véu que entrelaça este mundo ao Outro Mundo, permitindo, então, que ambos possam se misturar e se fundir, refletindo o equilíbrio e a sabedoria do universo.

Nesta noite, os deuses tornam o véu entre esses dois mundos o mais tênue possível, liberando assim, a passagem dos que estão do outro lado do véu. É nesta hora que passado, presente e futuro se misturam, fazendo com que o tempo linear deixe de existir, anulando o que nos impede de alcançar o divino: a razão.

Tradicionalmente Samhain marca a passagem do sol pela constelação de escorpião, nosso mais profundo ser, nossos mais ocultos desejos, nossos reais medos e anseios, nosso mais profundo inconsciente. É o encontro entre nossos deuses com nossos demônios interiores. É o sol que passa e ilumina o que nós escondemos, trazendo à tona o que está oculto, revelando nossos segredos, nos questionando e fazendo-nos enfrentar e guerrear com nosso próprio ser.

Esta guerra nos leva a uma encruzilhada: viver ou morrer? Ter a consciência e lutar como um herói, ou mergulhar na ignorância e na covardia, vivendo a morte lenta e dolorida. Neste ponto cego da encruzilhada é que nos encontramos cara a cara com a Morte, é neste momento que revelamos se somos o herói ou o covarde, se escolhemos viver ou morrer, se seremos consumidos pelos nossos fantasmas ou se ousaremos acender a tocha da sabedoria e renascer. Esta é a missão da Morte: nos conduzir ao renascimento, equilibrando assim, os mundos.

Samhain representa assim, o final de um ciclo e o início de outro, é o final de um ano e começo de outro. Celebramos, então, o Ano Novo. Mas para que este novo ano se inicie é preciso que tenhamos feito nossa escolha na encruzilhada da Morte. É necessário deixar para trás o que pertence ao passado e carregar somente os ensinamentos adquiridos; é necessário quebrar valores antigos, se livrar de mágoas passadas, superar preconceitos e experiências mal sucedidas para seguir seu destino, com a alma renovada. Somente fechando uma porta e que poderemos abrir outra, somente fechando um portal é que poderemos abrir outro, somente morrendo é que poderemos viver novamente.

Nesta noite, morte e vida se misturam, trazendo os mortos a este mundo e levando os vivos ao Outro Mundo. Mortos e vivos se confundem, mas se reconhecem de encontros anteriores e por elos de ancestralidade. Por isso, a Noite dos Ancestrais é um momento da Roda do Ano para cultuarmos aqueles que nunca conhecemos, mas que carregamos a mesma marca na alma, que deram origem a tribo que pertencemos hoje, que nos unem ao passado e reforçam a nossa história.

Samhain, na Wicca, representa a última colheita, a das ervas, e a morte do Deus. É dito que nada mais pode ser ceifado do ventre da Grande Mãe após esta data, que traria maus augúrios para a tribo. Por representar o prenúncio do inverno, período de infertilidade do solo, de muita neve e reclusão, este é o momento em que o Deus se recolhe para sua jornada no Outro Mundo aguardando e se preparando para o seu renascimento no solstício de inverno. Como disse anteriormente, para renascer é preciso morrer, inclusive para nossos deuses, aos quais somos semelhantes e com os quais compartilhamos um mesmo universo.

Muito se perdeu da antiguidade até os dias de hoje, muitas coisas foram alteradas bruscamente, muitas simplesmente desapareceram, e ainda há outras que foram adaptadas a novas religiões. No folclore americano, alguns dos costumes do halloween podem ser encontrados nas festividades de Samhain. De qualquer maneira, estarmos ligados a essência dos deuses é o principal nesta celebração.

Por isso, monte um altar em Samhain e celebre o ciclo de vida, morte e renascimento; homenageie seus ancestrais com a chama do fogo sagrado; celebre o final de um ciclo e o início de um novo ano com uma bela festa. Afinal, os sabás são celebrações de um clã, de uma tribo, de um vilarejo. Aproveite e junte-se a outros bruxos e celebre mais esta virada na Roda do Ano.

Tabela de correspondências para Samhain:

Cores: preto, laranja, roxo

Símbolos: abóboras iluminadas, crânios, ossos, fotografia de pessoas falecidas, flores secas e sempre-vivas, ervas

Incenso: patchouly, sangue de dragão, Artemísia

Pedras: obsidiana, turmalina negra, ônix

Divindades: deuses e deusas ligados à morte, às ervas, ao renascimento